MEGALupa: União de Leiria e a triste realidade de jogar sempre num estádio vazio
Em Leiria, Domingos e os seus jogadores enfrentam as coloridas bancadas do Municipal como se de adeptos silenciosos se tratasse, mas a ilusão de estádio cheio não tem ajudado à prestação da equipa em casa. A ausência de público tornou-se demasiado vulgar e só causa estranheza quando o recinto recebe um "grande", como acontecerá hoje na recepção ao FC Porto (20.30, Sport TV).
A "loja da chicha" , em plena zona tradicional da cidade do Lis, é um exemplo vivo do fenómeno clubístico que rouba adeptos ao Leiria. "Aqui são todos de um clube grande, principalmente do Benfica, e depois têm simpatia pelo clube da terra, mas devia ser ao contrário", confessa Lina, de 32 anos, por entre um sorriso comprometedor de quem fala contra causa própria. É portista e trabalha com mais dois simpatizantes do Benfica, dois do Sporting e um da União. "Eu gosto de futebol, mas para nós, mulheres, jogos à hora de jantar são um problema", explica com algum desgosto, por não poder ver os dragões na única visita a Leiria esta época.
Uns metros depois, num restaurante perto do estádio, por entre um café e um cigarro, Nuno Ferreira, de 57 anos, encontra várias explicações para as despidas bancadas do Municipal. "É um mal que atinge a generalidade dos emblemas nacionais, com excepção dos três grandes e talvez do Guimarães e Leixões", explica, confessando que talvez a União não tenha conseguido aproximar-se das pessoas.
É delegado técnico do clube, conhece-o por dentro e por isso sabe que as acções de charme junto das escolas não surtiram efeito imediato, mas "se calhar é preciso semear agora para colher depois e investir mais no merchandising". Para Nuno Ferreira, "talvez criando um bilhete família ajude. Já se sabe que os miúdos arrastam os pais, por isso é preciso começar a cativá-los e um dia teremos jovens a usar a camisola do Leiria em vez de uma do Benfica, Sporting ou FC Porto". Para já, " a suspeição e o receio de que o árbitro já traga o resultado fabricado" também ajuda a explicar o "divórcio da cidade com o futebol", além de "não existir um sentimento de união em redor do Leiria".
Carlos Manuel considera que um dos problemas está na diversidade. "Há muitos emblemas no município que dividem atenções entre si, mas o maior rival é o Marrazes", conta o seccionista do clube da divisão distrital, que tem, em média, 400 pessoas a assistir aos encontros da equipa. Com 33 anos, Carlos fala com orgulho de um clube com mais de 70 e diz que "a rivalidade existe". "O número de praticantes é mais ou menos o mesmo, mas nós temos mais modalidades", explicou, reconhecendo que o segredo pode estar no facto de o Leiria não ter camadas jovens. "E quando os miúdos começam a jogar no Marrazes perdem a ligação ao clube da cidade".
Sempre foi assim, diz, mas tal como Lina, Nuno Ferreira reconhece que "Leiria é uma cidade cara para se viver. E pagar 15/20 euros para ir ao futebol é um absurdo". Mas com Mourinho (2001/2002) era diferente. "Havia mais gente. O estádio não enchia, mas havia mais adeptos. Ele sabia como jogar com isso para chamar mais pessoas. A equipa jogava bem e o espectáculo era outro".
Para o actual treinador , Domingos Paciência, habituado a jogar perante 50/60 mil pessoas, é triste encarar a realidade, mas relativiza: "São poucos, mas bons! Quando cheguei tinha como prioridade colocar a equipa a ganhar jogando bem, oferecendo um bom espectáculo e com isso poder ajudar a inverter a tendência do estádio vazio". Hoje sabe que "isso não basta", por isso, antes de cada jogo em casa, o técnico dedica especial atenção à moralização dos jogadores, pois sabe que "quando entrarem vão ver apenas 800 ou 900 pessoas na bancada e isso pode ser bastante desmotivante".
0 comentários:
Enviar um comentário