Legalite2: Governo aproveita incidentes de Gondomar para estender repressão à Internet?
GOVERNO PREPARA NOVA LEGISLAÇÃO DE CONTROLO À VIOLÊNCIA NO DESPORTO, ASSOCIADA ÀS NOVAS TECNOLOGIAS DE COMUNICAÇÃO
Guerra chega à Internet
Por Nuno Perestrelo e Ricardo Quaresma
O episódio da agressão a três adeptos do Belenenses, alegadamente por elementos de uma claque do Boavista, abanou as certezas adquiridas de que o futebol português é hoje seguro. É certo que raramente se verificam confrontos dentro dos estádios, mas a rivalidade fala mais alto. Trocas de ameaças pela Internet, telefonemas anónimos e SMS estão na ordem do dia. E o Governo mantém-se atento, como garantiu ontem a A BOLA o secretário de Estado do Desporto, Laurentino Dias. Está em andamento um estudo sobre os perigos de o mau uso das tecnologias de comunicação poder levar à repetição de episódios como o de domingo. E em breve haverá legislação específica, estando em aberto a possibilidade de os clubes virem a ser punidos.
A agressão de que foram alvo três adeptos do Belenenses em Gondomar, alegadamente perpetrada por elementos ligados à claque do Boavista, obriga a uma reflexão sobre a evolução da violência ligada ao fenómeno desportivo. Vigiadas de perto pelas forças de segurança nos chamados jogos de risco, as claques parecem ter encontrado uma nova forma de confronto, agora fora dos estádios e, como foi o caso em Gondomar, antes ou depois de encontros em que os clubes que apoiam nem sequer participam. Ameaças por telefone, SMS ou Internet são agora frequentes e os blogs, cada vez mais em voga, ameaçam transformar-se num novo modo de incitar à violência. Ontem, num dos sites destinados a adeptos do Belenenses, o dia foi marcado por ameaças de parte a parte, tendo como pano de fundo o encontro do Estádio do Bessa, marcado para... Março. Pode não dar em nada, mas mais vale prevenir.
O Governo, pela voz do secretário de Estado do Desporto, já fez saber que este é um assunto que merece acompanhamento permanente. Laurentino Dias, acabado de chegar da Argélia onde se deslocou com o primeiro-ministro José Sócrates, revelou que, mesmo antes das queixas dos adeptos do Belenenses, já tinha manifestado preocupação pela possibilidade de as novas tecnologias facilitarem o nascimento de outros campos de batalha — basta que alguém que queira provocar confrontos leia, nas páginas das claques ou em blogs, o itinerário das excursões, por exemplo, para as interceptar num ponto de passagem. Mais: a questão pode fugir ao controlo das claques — subgrupos podem actuar por conta própria. Torna-se difícil controlar todos os factores em jogo!
Governo em estado de alerta
«Há já algum tempo, numa reunião com o Conselho Nacional contra a Violência no Desporto, solicitei um estudo para novas propostas legislativas nessa área. Felizmente, não têm abundado nos estádios situações como a que foi relatada e da qual não tenho conhecimento por ter estado ausente de Portugal, mas temos de acautelar situações potenciadas pelo mau uso das novas ferramentas, as quais podem introduzir maior conflitualidade», disse a A BOLA.
O secretário de Estado considera ainda ser cedo para se saber que novidades poderá a nova legislação sobre violência no desporto trazer à realidade nacional, mas não fecha a possibilidade de, em casos extremos, poder haver punições aos clubes cujos adeptos provoquem situações de violência. Informado pelo nosso jornal de que durante o dia de ontem, as ondas de choque das agressões em Gondomar, provocaram trocas de ameaças entre adeptos do Belenenses e do Boavista, na Internet, Laurentino Dias manifestou a esperança de que a modernidade não aumente os problemas. Sem querer centrar o discurso no caso recente, até por não o conhecer, fez um aviso sério a quem pensa em provocar problemas no futebol, independentemente dos clubes com que simpatizam: «Estamos alerta!»
COMO ACTUA A PSP para evitar confrontos entre grupos rivais
Informadores e espiões atentos 24 horas por dia
O fenómeno social das claques de futebol é um daqueles a que a polícia portuguesa dá mais importância quando toca a prevenir focos de violência no desporto. Nos últimos anos foi montada uma estrutura nacional de controlo das movimentações dos grupos de adeptos. Não há jogo que não seja preparado pelos grupos distritais da PSP com os dirigentes das claques de todos os clubes. Nestas conversas são dados pormenores sobre o número de ultras que vão ao estádio, roteiro da viagem e ainda percursos a pé dentro das localidades. Nos dias de jogo, as claques costumam ser escoltadas por carros da polícia e dentro dos grupos estão, muitas vezes, agentes à paisana.
Além disso, existem serviços centrais de informação (Unidades Metropolitanas de Informação Desportiva) através dos quais polícias procuram descobrir e anular potenciais focos de tensão, através de notícias em jornais, de sites na internet e de contactos com informadores.
O problema do e-hooliganismo é, no entanto, difícil de resolver. Grupos de adeptos que não pertençam a claques podem combinar discretamente acções de vandalismo. Ou os mais inocentes cidadãos podem ser apanhados desprevenidos ao combinarem o itinerário de uma viagem na internet (aos agressores bastar-lhes-á ler as combinações efectuadas e aparecer de surpresa no local para provocar os confrontos.
ADEPTOS azuis FALAM EM VINGANÇA, MAS LÍDERES apelam à paz
«Na Net são todos uns heróis»
O day after das agressões a adeptos do Belenenses em Gondomar foi vivido de forma intensa nos blogs associados ao clube do Restelo. Nos textos sobre o ocorrido, muitos comentários mostravam sede de vingança, marcada para o jogo de Março, no Estádio do Bessa. Ao mesmo tempo, supostos visitantes afectos ao Boavista provocavam e respondiam às provocações. Ao ler alguns dos sites, poderia temer-se o pior, como uma batalha campal entre claques no próximo jogo. Luís Silva, sócio número 1 da Fúria Azul e antigo presidente, garante que tal não acontecerá: «Na Net são todos uns heróis. A história da nossa claque demonstra que nunca nos envolvemos em situações dessas e além do mais, felizmente, tais nem são possíveis pois a polícia acompanha-nos em todos os jogos e as claques das equipas da casa também são acompanhadas», desmistificou, garantindo que «meia dúzia de pessoas não podem falar em nome de um grupo que não concorda com esse tipo de actuação».
CLAQUE AZUL NÃO COMPREENDE COMO FOI POSSÍVEL HAVER AGRESSÕES
«A polícia sabia e não fez nada»
É grave a acusação de Rui Cardoso, presidente da claque Fúria Azul, do Belenenses. Durante a semana que antecedeu o jogo, a polícia foi informada pelos ultras do clube de que diariamente eram feitas ameaças, supostamente por adeptos do Boavista. Pelos vistos, a informação não foi suficiente para evitar que, perto do estádio do Gondomar, três adeptos do clube do Restelo fossem agredidos — um deles teve mesmo de receber assistência no Hospital de S. João, no Porto.
«Antes de todos os jogos a PSP contacta-nos para saber quantas pessoas vão e como nos organizámos. Desta vez, eu alertei que recebemos ameaças via telefone e em blogs na Internet, a avisarem-nos para não irmos ao Norte ou estaríamos feitos. Diziam-nos que íamos morrer! Desta vez, no entanto, e sem eu saber porquê, ao contrário do que é normal nos jogos em que o Belenenses joga fora, não fomos acompanhados por nenhum agente da polícia. E quando chegámos ao estádio, em Gondomar, falámos com os agentes da brigada do Porto e eles garantiram-nos de que não tinham conhecimento de que tivesse havido estas ameaças». Falha de comunicação entre os departamentos antiviolência no futebol de Lisboa e do Porto? Rui Cardoso desconfia que sim, mas também se queixa de que os adeptos agredidos não tiveram qualquer apoio no local: «Tiveram de ser pessoas de Gondomar, residentes daquela zona, que ajudaram os rapazes e chamaram os bombeiros.»
COMISSÁRIO REFORMADO CONFIA NOS COMPANHEIROS
Um erro que não se repetirá
Está reformado, mas mantém atenção especial aos casos de violência no desporto. O comissário Monteiro Lopes explicou ontem a A BOLA que só uma falha dos serviços terá permitido que as ameaças alegadamente efectuadas a adeptos do Belenenses tenham passado ao lado da polícia. «Há muito tempo que temos atenção a todas as notícias e indícios de problemas. A PSP tem uma equipa com profissionais competentes e evoluídos que não voltará, por certo, a repetir este erro.» O erro terá sido o de não dar crédito às ameaças denunciadas por elementos da claque azul. Ou de pensar que as ameaças se destinavam apenas às excursões de adeptos, esquecendo os que viajaram por contra própria — como foi o caso dos três agredidos.
Monteiro Lopes ficou, no entanto, preocupado com este rasgo de modernidade no hooliganismo: «Pode haver pessoas a fomentar distúrbios em jogos de terceiros, pelo que daí advirão sempre distúrbios maiores, mas acredito que a PSP vai ser capaz de rapidamente readaptar os dispositivos de segurança.»
comentários:
8:53 da tarde
FOOOOORÇAAAAAA BOOOOOAAAAVIIIISTAAAAAAAAA!!!!
AINDA BEM QUE COMERAM SEUS PASTÉIS!!!!!!
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