Futilidades2: Ó José Falcão, vai lá tu entregar as "pizzas"...
Artigo publicado pelo Jornal de Notícias
Imagine que o seu frigorífico avariou e você precisa de o trocar por um novo. Provavelmente irá dirigir-se a uma loja de electrodomésticos que faça entregas ao domicílio. No entanto, se a sua opção recair sobre uma das lojas Worten, convém é primeiro consultar a lista de bairros excluídos das entregas. O da Musgueira, em Lisboa, S. João de Deus e Aleixo, no Porto, e da Rosa, em Coimbra, são alguns dos nomes da lista.
Incompreensão é o sentimento de alguns moradores desses bairros. "É uma discriminação, estão a discriminar as pessoas por viverem em bairros sociais", refere Teresa Guerra, do Padre Cruz de Lisboa, um dos excluídos. A moradora diz não perceber a razão da recusa da Worten e adianta que outras empresas como a Telepizza também o fazem.
Contactada pelo JN, esta loja de pizzas confirma, mas garante que o Padre Cruz é o único bairro onde não são feitas entregas. "E é temporariamente", explica André Flores, sub-gerente da Telepizza de Telheiras. E justifica-se dizendo "Só deixamos de fazer as entregas porque na maior parte das vezes que os nossos distribuidores lá iam eram assaltados, o que nos dava um prejuízo muito grande".
A mesma explicação é dada pela Worten "Recusamos fazer entregas em bairros nos quais os nossos operadores de entregas já foram assaltados", afirma Sandra Moita, do apoio ao cliente da Worten. É considerada uma medida de protecção dos funcionários. "Já tivemos um caso em que um operador foi esfaqueado", acrescenta a funcionária.
Um caso semelhante aconteceu também com um distribuidor da Telepizza que teve de ser hospitalizado depois de ser agredido numa entrega. Casos de violência são frequentes, segundo as duas empresas, e por isso que alguns dos trabalhadores recusam fazer entregas em determinados locais
"A cor do dinheiro"
Cristiano Pinto, membro da Associação Unida e Cultural de Moradores da Quinta do Mocho, Sacavém, assume ter conhecimento de casos em que os operadores de entregas "não foram bem recebidos". Mas considera não haver razões para a exclusão. "Estão a generalizar, porque aqui também há boas pessoas".
Da mesma opinião é Paulo Quaresma, presidente da Junta de Freguesia de Carnide, onde está incluído o Bairro Padre Cruz, ao afirmar que na zona "não acontece nada de anormal, é mais a fama que outra coisa". "A insegurança que existe aqui é a mesma que em qualquer outra zona da cidade", assume. Por este motivo, o autarca diz que este procedimento é uma forma de discriminação. Opinião partilhada por José Falcão, da Associação SOS Racismo "É uma discriminação pela cor do dinheiro e não pela cor da pele."
Confrontadas com estas declarações, as duas empresas desculpam-se "Infelizmente a imagem que passa para os clientes é que é discriminação, mas isto é apenas uma forma de protecção dos funcionários", argumenta a operadora da Worten. Já o subgerente da Telepizza admite que "as empresas deviam ter uma estratégia para garantir as entregas e a segurança dos funcionários", mas conclui: "Não temos capacidade para isso". Ainda assim os responsáveis da loja acreditam que brevemente as entregas podem voltar a ser feitas. "Estamos só a espera que as coisas acalmem", promete. Por sua vez Sandra Moita, lembra que a Worten garante "a entrega do material até a entrada desses bairros".
O JN tentou ainda obter reacções do Instituto do Consumidor e do Alto-Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas (ACIME) os quais não quiseram prestar qualquer tipo de declarações, uma vez que não receberam queixas sobre o assunto.
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