MEGALupa: Ditadura da SportTV dá nisto

Na primeira semana do Mundial, entre 9 e 15 de Junho, Portugal foi o país que menos acompanhou os jogos das outras selecções da prova que se realiza na Alemanha. A razão? A larga maioria dos encontros é transmitida numa televisão de acesso pago, a Sport TV, ao passo que no resto da Europa a esmagadora maioira dos países recebe o Mundial em canais de sinal aberto.
Segundo um estudo realizado em 40 países espalhados pelo mundo pela agência internacional Carat, em Portugal a audiência média dos jogos do Mundial de futebol que envolvem as selecções de outros países foi, na primeira semana, de apenas 1,6 por cento - o valor mais baixo entre todos os participantes na prova. Por outro lado, quando joga a sua equipa, os portugueses estão entre os maiores apoiantes, com uma audiência média de 32,8 por cento, apenas atrás dos italianos (34,9) e dos holandeses (36,2), os grandes aficionados pela sua selecção.
Tamanho desinteresse, só na Austrália (2,1) ou em Espanha (2,9), mas ambos os países também têm audiências médias, quando joga a sua selecção, bem mais baixas que a portuguesa - no caso australiano é até metade da nacional.
Na primeira semana, os jogos mais vistos em todo o mundo foram os emitidos em horário nobre, com o Itália-Gana no primeiro lugar (56,7 milhões de espectadores em todo o mundo), seguido pelo encontro de abertura (Alemanha-Costa Rica, 55,4 milhões). Angola-Portugal foi visto por 42 milhões de pessoas e ocupava o 4.º lugar.

SIC faz a diferença
Como em Portugal a larga maioria dos jogos é transmitida pela Sport TV, apenas quando a SIC transmite algum encontro isso se reflete verdadeiramente nas audiências. Na primeira semana da prova, a SIC fez apenas cinco transmissões (o jogo de abertura, Inglaterra-Paraguai, Angola-Portugal, Portugal-Irão e Brasil-Austrália). A audiência acumulada na TV portuguesa chegava aos 5,45 milhões, cabendo 86 por cento dessa audiência aos jogos da SIC.
Nos 20 principais países auditados, a audiência total na primeira semana chegou aos 564 milhões de espectadores. Portugal está quase no fundo da tabela, em 16.º lugar, aparecendo na sua frente países que nem sequer se encontram na prova, como a Roménia, Grécia, Bélgica, Canadá, mas cujas transmissões são feitas em sinal aberto.
Segundo a Infront, a empresa da FIFA responsável pela cobertura do Mundial, há na Europa 91 canais abertos com direitos televisivos (para jogos e resumos) e apenas 13 canais pagos - cada canal é contado tantas vezes quantos os territórios a que se destina. Na América, são mais equilibrados, com 29 abertos e 24 condicionados; na Ásia predomina o sinal aberto (71 canais) em detrimento da pay TV (5); na Oceânia o Mundial passa exclusivamente em canais abertos; em África, ironicamente, apenas 61 canais são livres, e 123 têm que ser pagos.

Mulheres portuguesas preferem a selecção
Outro dado interessante do estudo da Carat é o facto de o público feminino ter um peso significativo nas audiências: em Portugal, 42,3 por cento dos espectadores são mulheres. Apenas as mulheres italianas (43) e as argentinas (48,6) são mais "mundialodependentes" que as portuguesas. No Leste, a prova é sobretudo apreciada pelos homens: as audiências femininas na República Checa e na Eslováquia quase roçam os vinte por cento (23,2 e 23,8, respectivamente). Quando Portugal joga, o público tem mais espectadores jovens (até aos 24 anos; 21,7 por cento contra 16,5) e mais mulheres (48,1 contra 34,3).
O Euro 2004, realizado em Portugal, registou uma audiência total de 2330 milhões de espectadores, e em território nacional os jogos foram seguidos por 51,4 milhões de portugueses - a comparação com o Mundial 2002 é mais despropositada porque a maioria dos jogos se realizava quando era noite ou manhã cedo na Europa, a região que mais futebol consome.